quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

lá em naviraí

tem ema e tamanduá atravessando a estrada
tem corujinha com a patinha quebrada, que fica na gaiola toda bonitinha dormindo de dia.
tem cachorrinhos que latem mas mostram a barriguinha
tem cachorrão que late e morde (mas é bonito)
tem onça que eu não vi e nem quero ver
tem pavão que eu não vi mas queria ter visto, e que só vi a pena
tem abelha que persegue se a gente quer pegar o mel
tem muito pernilongo que pica sem dó nem piedade
tem goiaba com bicho que tem proteína
tem pistola pesada
tem muita comida
tem avó que cozinha muito bem e fala tanto quanto cozinha
tem avô bem quietinho mas quando joga baralho fica animado
tem tia muito atenciosa
tem tio muito engraçado
tem primo que nem eu
mas quase que não tem cinema
tem cavalo que vai mansinho e obediente
e tem pônei que deita e rola com você
tem ovelha que faz béééé e é fedida, bem fedida.
tem muita família, muita família, muita casa.
só tem uma farmácia aberta por dia
não tem carnaval, nem farol
tem pista de skate meio abandonada
e tem até um sushi bar
mas shopping não tem
o shopping de lá é o paraguai, que tem loja bem barata e boa.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

há exatamente um ano atrás

não queria ter experiências,
não queria sentir.
me apaixonar,
me emocionar, viver.
por isso é tão difícil para mim criar algo e apresentar.
os julgamentos não me deixam brava; me machucam.
fazem eu me sentir inferior. por quê? por que eu sou tão sensível? eu não posso fazer teatro sem me entregar. mas eu posso me entregar? eu posso fazer teatro? eu estou pronta para ser alguém? para ser vista, para ser ouvida? POR QUE eu faço teatro? já que eu falo para todsos que sou apaixonada por teatro, estou pronta para me entregar para ele?
será que eu sou muito egocêntrica e não quero dividir as minhas experiências porque acho que os outros não serão capazes de entendê-las? ou eu sempre me coloco para baixo e nunca cedo a tentar... me privo de viver, de sentir. Afinal, a vida é uma sensação? Quem não sente está desperdiçando vida? Eu sei que a vida é feita de escolhas, e tudo bem se eu quiser não sentir? Mas e se eu não tiver certeza de que quero isso? Sei que uma parte de mim quer sentir! Mas eu tenho medo de me magoar de novo. Comigo mesma, principalmente. Será que meu lado impulsivo vai ser controlado dessa vez? Não sei se é possível retirar de forma tão brusca uma característica que faz parte da minha personalidade. Mas, para continuar a minha vida, com ou sem sensações, eu sei que preciso escolher agora. Na verdade, a minha opção é só uma. Infelizmente.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

meio

uma sensação de vazio, sei lá. não que eu me importe o tempo todo com as pessoas. aliás, na maior parte do tempo acho que eu fico pensando em mim mesma. eu acho (meio) esquisito quando o munish fala pra gente ficar mais tempo com a gente mesmo. porque eu me sinto a maior parte comigo mesma. e aí eu fico pensando se não é egoísmo. mas eu acho que o que ele quer dizer é meio ficar aqui dentro, e isso vai acabar refletindo na forma com que a gente vê o mundo e, consequentemente, age para com ele. para com as pessoas. essas coisas aí.
mas, enfim. não era bem isso que eu queria dizer...é que hoje (e ontem, e antes de ontem, eu acho - eu quis dizer "esses dias") eu queria ser um pouco importante, sabe? pra alguém, ajudar alguém em sua existência, dar um apoio, ser um pouco ouvida. e ouvir, ouvir coisas que só eu saberia. não é bem "ser" importante, já que não existe alguém que diga exatamente qual o tamanho da importância das coisas. é mais "me sentir" importante.
e por causa disso eu to me sentindo meio meio. no meio. metade, como se algo tivesse faltando.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

e-mail

eu percebi que as pessoas esperam da gente (ou talvez elas não esperem isso, mas eu costumava querer achar que sim) que nós sejamos sempre aquelas mesmas pessoas. e às vezes a gente esquece que somos seres humanos e que erramos o tempo todo. eu esqueço sempre em relação a algumas pessoas. aí a gente quer que ela seja sempre aquela mesma pessoa, que a gente conhece, e que ela esteja sempre de um determinado jeito, num determinado tempo-ritmo. ela pode sentir raiva, alegria, paixão, tudo, mas dentro daquela pessoa que nós sabemos quem é. como um personagem verticalizado. mas nós não somos personagens. nós somos pessoas... e como seríamos personagens se não tivessemos todos eles dentro de nós? não é assim que funciona. a gente pode ser uma pessoa hoje, um tempo-ritmo hoje, e outro amanhã. a gente pode ser qualquer coisa. qualquer. eu sempre ouço muito o que as pessoas que eu confio tem a dizer, e acabo acatando como se fizesse parte de mim desde sempre. eu acho que gosto de experimentar. mas nem sempre é bom. pq eu acredito nas coisas ruins tb. eu não seleciono o que as pessoas que eu confio falam (eu esqueço que elas são seres humanos - de novo). depois eu acabo percebendo que deveria ter selecionado melhor, mas acabo sempre repetindo isso. não sei se eu acho que é um erro. nao parei pra pensar. mas talvez eu nao ache, já que eu continuo fazendo isso sempre. ou talvez eu simplesmente nunca havia parado pra pensar... a liberdade e todas as coisas são só um nome. é mais importante sentir e tentar transmitir pro outro oq vc tá sentindo do que dizer que é liberto. porque dizer não significa nada se a gente não o é de verdade. normalmente a gente diz muito quanto não tem certeza do negócio e temos que nos auto-afirmar. aí parece que perde a credibilidade. eu ainda não sou auto-critica suficiente pra dizer o que eu sou e o que eu não sou. talvez eu um dia seja, quando eu me conhecer melhor... mas eu sou e acho que vc também é. naquele seu sentido de ser.




para Anna.
texto que ela fez no jogo cênico, dirigido por Renato Andrade.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

amor tecido

quando eu vou falar? aqui não, porque senão eu estragaria tudo. mas também, falar depois, vai parecer que é uma DR. não que não seja, mas eu não gosto de chamar assim. porque DR parece um negócio sério e chato demais, e conversar é a melhor coisa que existe. me deixa aflita que eu não consiga falar o mais importante, acho que não me sinto totalmente à vontade ainda. eu não quero brigar nem discutir, apenas dizer o que eu acho. e ouvir. whatever... já sei! eu vou falar quando a gente estiver voltando pra casa, como quem não quer nada.

-você quer um cachorro?