quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Quer ver uma coisa?

i dont care too much for money, money can't buy me love

Eu sempre começava tudo o que dizia falando que o amava. Eu dizia que sempre o tinha amado e sempre o amaria. Eram coisas que tinham de ser ditas antes das outras. Então, comecei a falar. Não importava que ele estivesse em outro lugar e não pudesse ouvir nada do que eu estava falando. Além disso, no meio de uma frase, me ocorreu que ele já sabia tudo aquilo que eu estava dizendo, talvez soubesse até melhor do que eu, e desde muito tempo. Quando pensei nisso, parei de falar por um momento e olhei para ele de um jeito diferente. No entanto eu queria terminar o que havia começado. Continuei a contar para ele, sem rancor e sem nenhum tipo de raiva, tudo aquilo que estava na minha cabeça. Acabei botando tudo para fora, as piores coisas, tudinho, que eu sentia que não estávamos indo para lugar nenhum e que era hora de admitir isso, mesmo que já não adiantasse nada.
Uma porção de palavras, vocês podem imaginar. Mas me senti melhor depois que falei. E assim enxuguei as lágrimas da minha cara e me deitei de costas. (...) Pensei por um momento no mundo lá fora da minha casa, e depois não tive mais nenhum pensamento, a não ser que talvez eu conseguisse dormir.

do livro Iniciantes, de Raymond Carver.

Eu havia transcrito "Por que não dançam?". Após ler esse, decidi que tinha mudado de ideia. É apenas um trecho do conto ("Quer ver uma coisa?"), mas que no momento faz mais sentido pra mim do que o anterior inteiro.

Um comentário:

  1. Belo trecho!
    Fiquei afim de ler o livro!:)

    Ps:hahah amei o nome do seu blog!
    Beijo p/ Cristina!

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